Tenho que saciar o meu desejo psicológico de escrever, faz meses que não tenho coragem de pegar em meu caderno, e como sempre acontece, começo a prender meus sentimentos. Bom, é como minha psicóloga me disse um dia (maldita depressão), ela fez várias perguntas, conversando abertamente comigo – aquele escritório dela me deixava deprimida, não tinha cor, não tinha vida – como não choro, meu corpo, meu psicológico, tenta achar uma maneira de “libertar” tudo o que guardei dentro de mim. Desde que era pequena, via meus primos brincando em uma chácara que temos até hoje em Minas Gerais, não é tão longe da minha cidade atual, mesmo morando em outro estado, me lembro de Gabriel caindo enquanto brincávamos de polícia e ladrão, Ygor, meu primo mais velho por parte de pai, vendo que Gabriel iria começar a chorar por causa de seus cortes na palma das mãos, e em seus joelhos, foi correndo pra ele: “Não começa a chorar, homem não chora”. Gabriel não chorou, mas essa cena se repetia várias e várias vezes em minha família. Afinal, por que mulheres podem chorar e homens não?<br />
Lembro-me bem da última vez que chorei, devia ter 10 anos ou menos, ainda não sabia bem como funcionava a vida, era meu aniversário, dia 20 de maio, eu como qualquer outra da minha idade esperava um brinquedo de presente de sua avó, e fui com um sorriso enorme estampado em meu rosto receber meu presente, ganhei uma blusa de frio com aquele personagem da Disney costurado no lado esquerdo da minha barriga, ninguém percebeu, mas fui ao banheiro e comecei a chorar, minha mãe, que provavelmente foi a única que percebeu que eu não tinha ficado muito feliz com o presente, foi atrás de mim depois de alguns minutos, ela me encontrou no banheiro, e do jeito rígido dela na época – hoje nem tanto –, mandou eu engolir o choro, e foi o que eu fiz, parei de chorar, lavei meu rosto, meus olhos começaram a deixar o vermelho de lado, voltei a ficar com a família como se nada tivesse acontecido. E dai pra frente dá para ter uma noção do que aconteceu, virei uma menininha com pouca idade, e digamos, que “forte” no sentido de sentir.
Desde criança fui a que oferecia colo, preferia brincar com os meninos do que com as meninas, achava elas frescas demais por brincarem de boneca, e eu sempre correndo, sempre caindo, sempre me machucando, sangrando, e nunca um choro saiu, afinal, para mim, chorar virou coisa de menina fresca.
Algo mudou com meus 12 anos de idade, Ygor com 15 anos, Gabriel com 13. Ygor morava com minha avó, a mesma que tinha me dado a blusa de frio. Era um fim de semana qualquer, a família resolveu se reunir e almoçar, cheguei e fui cumprimentar todos, entrei no quarto do meu primo, ele estava sentado na cama dele, que era encostada com a parede, junto de Gabriel, estavam conversando no momento, eu disse oi para os dois, mas logo sai, o ambiente estava caído demais para se manter lá dentro, vi algumas coisa brilhar no rosto do meu primo mais velho, se assemelhavam com gostas de água, caindo de seus olhos, depois de muito tempo, fiquei sabendo da história pela minha prima Barbara (irmã de Ygor) que ele teria acabado o namoro. Disse para ela que nunca iria namorar na vida, porque se ele chorou, se a pessoa que dizia que homem não chora, derramou lágrimas, coisa boa não devia ser. Me apaixonei pela primeira vez com 13 anos, no começo achei a melhor sensação de todas, mas como disse, coisa boa não é, passei a achar a pior sensação do mundo com o tempo, não chorei. Só era a menina apaixonada e durona.<br />
Meus problemas começaram depois de 5 meses apaixonada, já com 14 anos, não aguentava aquele sentimento torturante, comprei um caderno, onde escrevia, um diário para ser exata, mas não deu muito certo, não conseguia manter em dia. Comecei a comprar livros, eles tiravam a sensação da minha cabeça, do meu coração. E quando me dei conta, já conseguia controlar aquilo. Eu não me apaixonava como as pessoas se apaixonavam, eu controlava meus sentimentos. Era diferente de todos. Não chorava em filmes, não chorava com uma história triste, minha mãe me chamava de “sem coração”, por não expressar o que sentia. No fundo, bem lá no fundo, eu gostava de ser aquela garota durona, que não chora, que é diferente, mas tudo aquilo cansava, eu sempre tinha que estar disponível como ombro para chorar, para ouvir desabafos. Ninguém, nem mesmo uma alma penada, perguntava o que se passava comigo, e se perguntasse eu responderia, com certeza, “nada demais”. Mas eu tinha vontade de trocar de papel, mesmo que fosse por um dia, eu queria ser a garota que chora, que não tem vergonha de jogar para fora o que sente e o mundo que se exploda. Atualmente eu choro, e sinto um alívio enorme, não choro para ninguém, só para eu mesma, porém, sinto que vou incomodar alguém se pedir para desabafar. Escrever é a única solução que tenho, pois sei que nenhum caderno vai recusar meu desabafo. Afinal, eu ainda sou aquela menininha com medo de chorar para alguém.
Amanda Perez.
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